quinta-feira, 28 de março de 2013

"Um anel para a todos governar"


 "Três Anéis para os Reis Elfos sob este céu, 
 Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores,  
 Nove para Homens Mortais fadados ao eterno sono, 
Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los, Um Anel para a todos trazer
 e na escuridão aprisioná-los Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam. "






"- Por que, por que não foi destruído? - gritou Frodo. - E como aconteceu ao
Inimigo perdê-lo, se era tão forte e o considerava tão precioso? Apertou o Anel em sua
mão, como seja enxergasse dedos escuros se estendendo para tentar tomá-lo.
- Foi tomado dele - disse Gandalf. - Antigamente a força de resistência dos elfos
contra ele era maior; e homens e elfos não eram tão estranhos uns aos outros. Os homens
de Ponente vieram ajudá-los. Este é um capítulo da antiga história que merece ser
recordado; naquele tempo também havia tristeza, e uma escuridão crescente, mas houve
pessoas valorosas e feitos que não foram totalmente em vão. Um dia, talvez, eu lhe conte
toda a história, ou quem sabe você a escute de alguém que a conhece melhor.
- Mas por enquanto, já que acima de tudo você precisa saber como essa coisa veio
parar em suas mãos, e isso já dá uma história bem longa, vou me limitar a essa parte. Foi
Gil-galad, Rei-Elfo, que juntamente com Elendil de Ponente derrotou Sauron, embora os
dois tenham sucumbido nessa empresa; Isildur, filho de Elendil, cortou o Anel da mão de
Sauron e tomou-o para si. Dessa forma Sauron foi subjugado e seu espírito fugiu e ficou
escondido por muitos anos, até que sua sombra tomou forma novamente na Floresta das
Trevas.
- Mas o anel foi perdido. Caiu no Grande Rio, Anduin, e sumiu. Isildur estava
marchando para o Norte ao longo da margem leste do Rio; perto dos Campos de Lis foi
assaltado pelos orcs das Montanhas, e quase todo o seu povo foi assassinado. Ele pulou
nas águas do Rio, mas o Anel escorregou de seu dedo enquanto nadava, e então os orcs o
viram e o mataram com flechas.
Gandalf parou. - E ali, nos lagos escuros dos Campos de Lis - disse ele - , o Anel
sumiu do conhecimento e das lendas; e até mesmo esta parte de sua história é conhecida
apenas por poucas pessoas, e o Conselho dos Sábios não conseguiu descobrir mais. Mas
finalmente acho que posso continuar a história.





- Muito depois, mas ainda há muito tempo, vivia nas margens do Grande Rio, na
borda das Terras Ermas, um pequeno povo de mãos ágeis e pés silenciosos. Acho que
eram semelhantes aos hobbits; parentes dos pais dos pais dos Grados, pois amavam o Rio
e sempre nadavam nele, ou faziam pequenos barcos de junco.
Havia entre eles uma família muito considerada, pois era maior e mais rica que a
maioria, que era governada pela avó, senhora austera e conhecedora da história antiga de
seu povo. O elemento mais curioso e mais ávido de conhecimento dessa família se
chamava Sméagol. Ele se interessava por raízes e origens; mergulhava em lagos fundos,
fazia escavações embaixo de árvores e plantas novas, abria túneis em colinas verdes; com
o tempo, deixou de olhar os topos das colinas, as folhas nas árvores, e as flores se abrindo
no ar: sua cabeça e olhos só se dirigiam para baixo.
- Tinha um amigo chamado Déagol, parecido com ele, de olhos mais penetrantes
mas não tão rápido ou forte. Uma vez pegaram um barco e desceram para os Campos de
Lis, onde havia grandes canteiros de íris e juncos em flor. Ali Sméagol desceu e foi fuçar
as margens, mas Déagol ficou sentado no barco pescando. De repente um grande peixe
mordeu a isca, e antes que soubesse onde estava, ele foi arrastado para fora do barco e
dentro da água, até o fundo. Então soltou a linha, pois julgou ver alguma coisa brilhandono leito do rio, e prendendo a respiração conseguiu apanhá-la.
- Depois subiu soltando bolhas, com plantas em seu cabelo e um monte de lama na
mão, e nadou até a margem. E veja só! Quando limpou a lama, viu em sua mão um lindo
anel de ouro, que brilhava e resplandecia ao sol. Seu coração se alegrou.
Mas Sméagol tinha ficado vigiando de trás de uma árvore, e enquanto Déagol se
regozijava com o anel, Sméagol chegou devagar por trás dele, “Dê isso para nós, Déagol,
meu querido”, disse Sméagol sobre o ombro do amigo.
“Por quê?”, perguntou Déagol.
“Porque é meu aniversário, meu querido, e eu quero isso”, disse Sméagol.
“Eu não ligo”, disse Déagol. “Eu já lhe dei um presente de aniversário, que foi
mais do que eu podia. Eu encontrei isso, e vou ficar com ele.” “Vai mesmo, meu
querido?” disse Sméagol; e segurou Déagol pela garganta e o estrangulou, porque o ouro
era tão brilhante e bonito. Depois pôs o anel em seu dedo.
- Jamais se descobriu o que tinha acontecido com Déagol; foi assassinado longe de
casa, e seu corpo foi habilmente escondido. Mas Sméagol voltou sozinho, e descobriu que
ninguém de sua família podia vê-lo quando estava usando o anel. Ficou muito satisfeito
com essa descoberta e a ocultou. Usava-a para descobrir segredos, e se aproveitava de
seus conhecimentos em feitos desonestos e maliciosos. Ficou com olhos perspicazes e
ouvidos aguçados para tudo que fosse pernicioso. O anel tinha lhe dado poderes de
acordo com sua estatura. Não é de admirar que tenha se tornado muito impopular e que
fosse evitado (quando visível) por todos os seus parentes. Estes o chutavam, e ele mordia
seus pés. Começou a roubar e a andar por aí resmungando para si mesmo, gorgolejando.
Por isso chamavam-no de Gollum e o amaldiçoavam, e lhe diziam para ir embora; sua
avó, querendo paz, expulsou-o da família e o pôs para fora de sua toca.
- Vagou sozinho, chorando um pouco pela dureza do mundo, e viajou no acima, até
chegar a um riacho que descia das montanhas, seguindo esse caminho. Capturava peixes
em lagos fundos com dedos invisíveis e os comia crus. Num dia muito quente, quando se
inclinava sobre um lago, sentiu algo queimando na sua nuca, e uma luz ofuscante que
vinha da água doeu em seus olhos molhados. Surpreendeu-se com isso, pois havia quase
se esquecido da existência do sol. Então, pela última vez, olhou para cima e o desafiou
com o punho fechado.
- Mas quando abaixou os olhos, viu à sua frente, distantes, os topos das Montanhas
Sombrias, de onde vinha o riacho. E de repente pensou: “Debaixo daquelas montanhas
deve ser um lugar fresco e de muita sombra. O sol não Poderia me olhar ali. As raízes
dessas montanhas devem ser raízes de verdade; deve haver grandes segredos enterrados lá
que não foram descobertos desde o início.
- Então viajou de noite pelas montanhas, e encontrou uma pequena caverna, da
qual corria o riacho escuro; e fez o caminho rastejando, como uma larva entrando no
coração das montanhas; e sumiu de todo o conhecimento. O Anel entrou nas sombras com
ele, e nem mesmo quem o fez, quando seu poder começou a crescer novamente, pôde
saber qualquer coisa sobre o assunto."


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