domingo, 29 de dezembro de 2013

O Guerreiro e o Dragão

  Ontem a noite, enquanto a maioria do país se lamentava por uma certa perna quebrada (para a qual, eu não dou a minima, mas faço uma observação, doeu pra krai!), eu tentava, com todas as minhas forças, dormir. E como é de costume, eu falhei. Então, enquanto o sono vinha, eu escrevi este pequeno conto/ devaneio / não esperem grande coisa, e decidi postá-lo, afinal, por que não? Este é um blog de contos não? Não era essa a idéia? Enfim, leiam e comentem:

















 "Com minhas asas enormes a romper o escuro céu noturno, e o vento tentando se opor a minha velocidade, me vem na lembrança, uma conversa que havia tido, alguns dias atrás, com um guerreiro humano.
 Como todo dragão que se preze, eu apreciava o topo de uma montanha para adormecer. Um local de difícil acesso, sem dúvidas, uma inclinação acima das nuvens, onde o frio era forte, mas mesmo assim não me incomodava. Dragões não sentem frio.
 Um grupo de cinco guerreiro me surpreendeu. Me atacaram aos gritos, os cinco de uma vez, de frente, sem medo nos olhos.
Uma baforada. E o assunto acabou. Mas para minha surpresa, um sobreviveu.

Havia se protegido atrás de um escudo mágico, que até resistiu bem ao meu fogo, antes de derreter. Sua armadura havia se desfeito em alguns pontos, e seu braço esquerdo estava horrivelmente queimado. Estava tomado pela dor, se apoiando em sua espada, com grandes dificuldades . Percebi que haviam queimaduras por toda a parte. Mas o humano ainda vivia. Mesmo que não por muito tempo...

 Fui acometido por uma curiosidade, e com grande esforço, me lembrei do idioma comum usado pelos homens:

- Diga-me, humano tolo, o que levou tamanha loucura de sua parte?

  Com grande dificuldade, o homem me olhou, surpreso. Mas nada disse, ao que tornei a falar:

- Sua vida irá te deixar, não lhe resta muito tempo. Por que tamanha loucura? Responda-me!!

- Eu o amaldiçoo, dragão - sua voz soava fraca, mas audível - de que te importa saber o nosso motivo? Por que não pode simplesmente aceitar que cinco homens seguiram seus propósitos, mesmo diante da morte?

- Por mais que seja admirável, foi tolice! Esperavam mesmo conseguir me matar?

- Sim, esperávamos... Nossa pobre aldeia foi atacada por um bruxo das trevas, que lançou sobre nosso amado ancião, uma maldição terrível! O velho sofre de dores dia e noite, e temo que não ira durar muito . Um velho eremita nos fez saber que, tal maldição, por ser antiga e poderosa, só poderia ser quebrada com o sangue de um dragão...

- E aqui estão vocês, tentando conseguir o sangue de um dragão?- me aproximei dele - Mentira! O escudo que você possuía, que o permitiu viver um pouco mais que os outros, de modo algum viria de uma 'pobre vila'. E quais seriam os homens que, abrindo mão de suas vidas, sem ganho algum, se lançariam em um ataque suicida, para ajudar um velho? E saiba de uma coisa: o sangue de um dragão não cura. Ele queima!! Quero a verdade!!!!

- Certo. Você me pegou...na verdade, um bruxo das trevas anda oferecendo uma recompensa generosa por quem lhe levar o coração de um dragão. Como ouvimos várias histórias, desde que éramos crianças, de cavaleiros que mataram dragões,resolvemos tentar...

Cheguei bem perto dele.

- Por que continua mentindo? As histórias nunca contam o quão desesperadora eram as lutas dos poucos que conseguiram matar um dragão. E mesmo assim, vocês me atacaram como tolos, suicidas, de frente e gritando até parecia que queriam que eu os...

Foi quando me dei conta de que algo estava errado. Os corpos dos outros quatro, feitos em cinza, estavam se reconstruindo diante de meus olhos, e inclusive o que falava, suas queimaduras começavam a desaparecer.

- Isso mesmo, Dragão. Somos guerreiros amaldiçoados. Não podemos morrer. Fadados a vagar eternamente por este mundo. Rezávamos para que teu fogo fosse capaz de nos matar. Mas não. A maldição sobre nós é ainda mais forte!!

- Vocês...- a esta altura, os cinco estavam completamente restaurados, vivos como se nada tivesse ocorrido - Então as histórias eram verdadeiras. Os cinco malditos pelo deus Hazzgh. Sim, nem mesmo meu fogo pode ajuda-los, lamento...

 As expressões dos cinco era de pura decepção e desespero. A maldição em torno de suas almas fora feita por um deus, sendo assim, apenas um deus poderia desfaze-la. Muitos são os homens que buscam a vida eterna. Mas a mente humana não suporta a eternidade. Viver para sempre é algo que humano nenhum suportaria. E foi exatamente isso que os cinco descobriram. Aos poucos suas essências iam se perdendo. Aos poucos, iam se esquecendo quem um dia foram. Os cinco malditos... Um grupo interessante...

 Quando voltei a mim, já havia atravessado quase todo o reino. Havia dormido por tempo demais. Era hora de olhar o mundo, ver o que havia mudado. Era hora de alcançar o horizonte.
 Os homens tem uma vida fugaz, que dura um piscar de olhos... Mas nós dragões... Somos eternos!"

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