Observando as estrelas na noite
escura de “meter o dedo no zói” como
eu disse ao querido Okarin-niichan na ocasião, me deparei com a singela
constelação da Lira (Lyra). Logo abaixo do imponente Cisne (Cygnus) e sua
famosa cruz do norte, ela se destaca pela sua estrela maior, a estrela α, Vega às margens da via láctea.
Segundo a mitologia grega nas
suas diversas versões, a lira em questão pertencia a Orfeu. Orfeu era filho do
deus do sol e da música, Apolo com a musa da poesia, Calíope. Não tinha nem
como ele não se tornar músico e poeta também.
Segundo uma das versões, a lira
foi feita de um casco de tartaruga que o deus Hermes encontrou no rio Nilo. As
cordas em número de sete eram alguns tendões secos da tartaruga. Hermes deu a
lira a Apolo, que deu ao seu filho, que a aperfeiçoou colocando mais duas
cordas. Daí ninguém mais segurou Orfeu que se tornou um grande menestrel.
Orfeu era considerado o maior
músico e poeta de todos os tempos. Com tanto talento, Orfeu apareceu na estória
de Jasão como um dos Argonautas, onde acalmava as brigas com sua música e
conseguiu fazer frente até mesmo às sereias, interrompendo seu canto
enfeitiçante. Orfeu assim conquistou corações, inclusive o de Eurídice, com
quem iria se casar se uma serpente não a tivesse picado e a tivesse mandado
para o mundo dos mortos.
Orfeu
não era brasileiro nem nada, mas não desistiu e foi atrás de Eurídice
atravessando o rio que separa o mundo dos vivos do dos mortos. Encantou desde
Caronte e Cérbero até Hades e sua esposa Perséfone que os concederam a chance
de voltarem ao mundo dos vivos com a condição de Orfeu não olhar pra trás
enquanto atravessava o mundo dos mortos. Por um descuido, Orfeu inseguro olhou
pra trás e viu sua amada sendo engolida novamente pelas trevas. Orfeu voltou ao
mundo dos vivos e foi morto por mulheres bêbadas ao serem repelidas por ele por
não querer ter relações sexuais com outras mulheres. Os deuses sensibilizados
com a estória encaminharam Orfeu de encontro a sua amada e pegaram sua lira a imortalizaram
como uma constelação.
Esse conto
é contado em várias versões em todas as formas de arte antiga e atual. A mais
memorável pra mim foi a contada pelo mestre Masami Kurumada em Saint Seiya que
usou um menestrel moderno Seiji Yokoyama (o mais próximo do que seria Orfeu nos
dias atuais, responsável por trilhas sonoras como a de Saint Seiya e Captain
Harlock ) para eternizar essa história de amor para sempre em minha mente com a seguinte frase:
"Desejava ter a tua alma de volta, essa é a verdade.
Porém quando uma flor morre, nunca volta a florescer.
Para as pessoas, as aves, os insetos e até mesmo as estrelas que
brilham intensamente...
...a vida ocorre apenas uma vez, por isso é tão bonita e
preciosa.
Estava equivocado em querer trazer alguém da morte.
Me enganei em tal coisa."
A constelação da Lira bem abaixo da Raposa e do Cisne(figura de cima) e a sua representação oriental na cultura árabe como a constelação da Tartaruga (figura de baixo) coincidindo com a estória de que a lira era feita de um casco de tartaruga.