A Fox nos torturou. Por longos anos, atirou em nossas costas filmes
ruins envolvendo os X-men, o Wolverine e o pobre Quarteto Fantástico, e era consenso
que ela deveria devolver os personagens para a Marvel, que até então vinha
conquistando nossos corações.
Mas o que aconteceu? A Marvel nos cansou com seus filmes, todos
seguindo a mesma maneira de contar história, que mesmo depois de uma guerra
civil, parecem não haver consequências. Ênfase no “parecem”, pois as
consequências estão lá, só que o próprio filme as amenizam.
E aí um projeto de baixo orçamento fez a Fox finalmente entender que alguns
heróis não são tão heroicos assim. E que o público está louco por um filme mais
violento e sombrio envolvendo qualquer personagem de hqs.
Depois de dois filmes desastrosos do Wolverine, quando já não havia
mais esperanças, Logan surgiu. Os primeiros trailers mostravam uma proposta
diferente, mas diabos, quem acredita em trailer hoje em dia? Quando as
primeiras críticas começaram a sair, pensei “tão exagerando, não é possível que
esse filme seja tão bom! ”
Nunca fiquei tão feliz em estar enganado. Já logo nos primeiros
minutos, quando Logan se envolve numa briga e responde com uma fúria e
violência que até então eram apenas sonhos em nossas cabeças de nerd, eu me dei
conta de que aquele era sim, um filme foda.
Logan está longe de ser um mocinho, ou herói, passa o filme todo
querendo se livrar da Laura e da responsabilidade que ele tem com a pequena.
Passa o filme todo andando torto, sentindo dor, praguejando e amaldiçoando tudo
à sua volta, e quando luta, luta feito um animal selvagem, rasgando e
dilacerando quem entre em seu caminho.
Ele dilacera seus inimigos em uma violência que me faz vibrar. Era esse
o personagem que todos nós passamos esses anos todos querendo ver, um bruto com
mini espadas em suas mãos, que dilacera o rosto antes de perguntar qualquer
coisa.
E essa brutalidade se estendeu até a pequena e selvagem Laura. A x-23,
com garras nos pés e poucas palavras, uma máquina de matar que não precisa ser
protegida, mas que sabe muito bem se cuidar.
Como se já não fosse o bastante, ainda temos o quebrado professor
Xavier, totalmente destruído. Seus ataques o fazem perder o controle, e ele
simplesmente transforma em patê os cérebros alheios. Uma bomba relógio
controlada por remédios.
E não posso me esquecer do Caliban, o albino rastreador que aceitou
ajudar Logan, e só se deu mal por conta disso.
O filme tem um tom de tristeza, tudo deu errado, todos estão mortos. A
dor tanto do Logan, quando do Xavier, fica muito evidente em seus olhares, um
show de interpretação Hugh Jackman e
Patrick Stewart, que em cada diálogo nos
fazem sentir cada vez mais a dor de viver naquele mundo cinzento.
Os dois tem uma dinâmica muito boa, ambos viram tudo dar errado, e
ambos se arrependem
das escolhas que tomaram. No fundo, só querem ter paz, e
poder sentar em uma mesa, com as pessoas que amam, sem serem caçados todos os
dias.
O filme dosa bem, cenas de ação frenética, que nos fazem grudar na
cadeira do cinema, e com o respiro, mostrando em cenas calmas e cheias de
diálogo, o quão profundos esses personagens são.
No fim, o mundo não está em perigo, Logan não vai salvar heroicamente as
pessoas de um grande vilão megalomaníaco que quer refazer a humanidade. É só um
conflito que nem sequer sairá nos jornais, uma batalha crua e sangrenta da qual
ninguém naquele mundo irá se lembrar. Uma história simples, porém, que cala
fundo em nossos corações.
Com o subir dos créditos, na certeza de que finalmente entenderam que
heróis também podem ser voltados para adultos, só consigo bater palmas e
agradecer ao maluco do Deadpool e ao Ryan Reynolds, por abrirem caminho pra
este belo filme, que mesmo sem um único uniforme, conseguiu ser um dos melhores
filmes de herói que já assisti. Com a Marvel ditando o caminho, e a Dc tentando
acompanhar, ver um filme com uma
abordagem diferente pode acabar mudando as regras do jogo.